Autor: Dr. Marcello Alencar
A mente humana é um vasto e intrincado labirinto, habitado por diferentes aspectos de nossa psique. Quando falamos sobre o "gestor da consciência", podemos pensar na função da nossa consciência como um farol que ilumina os caminhos que escolhemos seguir. Mas o que aconteceria se esse farol decidisse apagar-se, tirando férias para sempre? Para explorar essa ideia, podemos nos apoiar nas teorias do renomado psicólogo suíço Carl Jung.
Jung (1991) propôs que a psique humana é composta por diversos componentes, incluindo o ego, a sombra, os arquétipos e o inconsciente coletivo. O ego, representando a nossa consciência, é responsável por organizar e interpretar as experiências diárias. Contudo, quando este gestor se ausenta, as consequências podem ser profundas e multifacetadas.
Sem a orientação do ego, somos deixados à mercê de nossos instintos primordiais e dos conteúdos reprimidos que habitam a sombra — a parte da psique que abriga aqueles aspectos indesejados de nós mesmos. Jung (1986) acreditava que a sombra contém não apenas as fraquezas e falhas pessoais, mas também potenciais não realizados. Assim, uma ausência prolongada do nosso gestor da consciência pode levar a um desvio em direção ao caos e à desintegração da identidade.
Esse estado de desintegração pode se manifestar em comportamentos impulsivos ou em crises existenciais. Sem uma consciência ativa para filtrar nossas emoções e pensamentos, poderíamos nos perder em um mar de confusão psicológica. A falta de auto-reflexão poderia resultar em uma desconexão entre o eu consciente e o eu inconsciente, levando à alienação.
Contudo, Jung (1994) também nos oferece uma perspectiva esperançosa: a possibilidade de individuação. Este processo envolve integrar os diferentes aspectos da psique — incluindo a sombra — para alcançar um estado de totalidade. Se o gestor da consciência decidisse tirar férias permanentemente, talvez enfrentássemos um período tumultuado; no entanto, esse caos poderia ser o catalisador necessário para uma transformação profunda e autêntica.
Em última análise, a ausência do nosso gestor consciente poderia servir como um convite à exploração interior. Ao confrontar nossas sombras e integrar os aspectos ignorados de nossa psique, poderíamos emergir mais fortes e completos. Assim como Jung (2013) sugeriu que devemos enfrentar nossos medos e incertezas para alcançar a verdadeira compreensão de nós mesmos, essa "férias" forçada poderia revelar oportunidades para crescimento pessoal inexplorado.
Portanto, ao refletirmos sobre a possibilidade de nosso gestor da consciência tirar férias eternas, devemos lembrar que cada crise traz consigo uma oportunidade de transformação. A jornada pela individuação pode ser desafiadora, mas é também a chave para descobrir quem realmente somos.
Referências Bibliográficas:
JUNG, Carl Gustav. Aion: Estudos sobre os símbolos do eu. São Paulo: Cultrix, 1986.
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. São Paulo: Editora Cultrix, 1991.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. São Paulo: Editora Vozes, 1994.
JUNG, Carl Gustav; JOLY, Pierre; RICARD-BOURGUIGNON, Alain. Memórias, 2ª ed. São Paulo: Editora Ágora, 2013.
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Dr. Marcello Alencar
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