Autor: Dr. Marcello Alencar
A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune complexa que, à primeira vista, parece restringir-se ao corpo físico, causando alterações motoras, cognitivas e sensoriais. No entanto, ao aprofundarmos nossa compreensão sobre as interações entre mente e corpo, percebemos que a EM transcende essas limitações visíveis. Ela nos convida a olhar para além dos sintomas físicos e a refletir sobre como fatores emocionais e psicológicos podem estar intrinsecamente ligados ao seu desenvolvimento e progressão.
A Psicossomática e a Esclerose Múltipla
No campo da psicossomática, que investiga como a mente influencia o corpo, compreendemos que as doenças não são exclusivamente fenômenos biológicos. Elas também podem ser expressões de questões emocionais e experiências traumáticas não resolvidas. Especificamente no caso da esclerose múltipla, vários estudos sugerem que o estresse emocional crônico, traumas não processados e o manejo inadequado das emoções podem influenciar significativamente o curso da doença.
Um estudo pioneiro de Marrie et al. (2010) indicou que o estresse emocional desempenha um papel relevante no desencadeamento e na exacerbação de doenças autoimunes, incluindo a EM. Situações de pressão contínua, frustrações diárias e até medos inconscientes podem se manifestar no corpo de maneiras inesperadas, como se fossem um grito de alerta da mente, tentando nos lembrar de questões emocionais que precisam ser cuidadas e resolvidas.
Traumas e Emoções Não Expressas
Na perspectiva psicossomática, emoções reprimidas, como raiva, tristeza ou medo, tendem a se alojar no corpo, manifestando-se como sintomas físicos. No contexto da esclerose múltipla, muitos pacientes relatam altos níveis de ansiedade e depressão. Estudos apontam que esses fatores emocionais não só afetam diretamente a qualidade de vida, mas também podem influenciar a gravidade e a progressão da doença (Marrie et al., 2017).
A mente, em sua complexidade, pode usar o corpo como um veículo para expressar aquilo que não consegue comunicar de forma consciente. Quando não somos capazes de processar adequadamente emoções difíceis, essas energias emocionais podem se transformar em sinais físicos, exacerbando sintomas e influenciando negativamente o curso da esclerose múltipla.
O Impacto do Estresse na Imunidade
Há uma relação bem documentada entre o sistema nervoso, o sistema imunológico e o estresse. A resposta ao estresse crônico provoca uma cascata de reações fisiológicas que podem impactar o sistema imunológico, desregulando-o e tornando o corpo mais vulnerável a doenças autoimunes. No caso da esclerose múltipla, que é caracterizada pela destruição das bainhas de mielina pelo próprio sistema imunológico, essa desregulação pode agravar o quadro clínico.
É importante destacar que, embora o estresse emocional não seja a única causa da EM, ele pode ser um fator desencadeante ou agravante. Dessa forma, a abordagem terapêutica deve considerar o bem-estar emocional como parte fundamental no cuidado com o paciente.
Abordagem Terapêutica Integral
A compreensão da psicossomática aponta para a importância de uma abordagem terapêutica que considere o ser humano de maneira integral – mente, corpo e emoções. Além dos tratamentos convencionais, como medicamentos imunomoduladores e fisioterapia, terapias complementares, como a microfisioterapia, têm se mostrado eficazes no alívio de sintomas e na promoção do equilíbrio emocional.
A microfisioterapia, por exemplo, trabalha na identificação de traumas celulares, ajudando o corpo a reconhecer e eliminar memórias traumáticas. Ao facilitar a liberação dessas memórias, a terapia auxilia o organismo a restabelecer seu equilíbrio natural, promovendo uma melhora não só física, mas também emocional. Isso é crucial, especialmente em doenças como a esclerose múltipla, onde o impacto emocional e o desgaste físico caminham lado a lado.
O Autoconhecimento como Ferramenta de Cura
O processo de cura na esclerose múltipla não é apenas físico; ele exige uma jornada de autoconhecimento e escuta interna. Aprender a reconhecer e expressar nossas emoções, aceitar vulnerabilidades e buscar apoio emocional é parte essencial do tratamento. Cultivar práticas de autocuidado emocional, como mindfulness, psicoterapia e terapias integrativas, pode auxiliar significativamente no controle do estresse e na prevenção de recaídas.
Cuidar do corpo, da mente e das emoções de forma integrada é o caminho para uma vida mais plena e equilibrada, mesmo diante de uma condição tão desafiadora quanto a esclerose múltipla.
Conclusão: A Psicossomática e a Busca pelo Equilíbrio
A esclerose múltipla nos convida a ir além do físico e a reconhecer a profundidade da conexão entre mente e corpo. Ao abordarmos a doença de forma integral, considerando fatores emocionais, podemos oferecer aos pacientes um tratamento mais completo e humanizado. A psicossomática, ao nos revelar o impacto das emoções reprimidas no corpo, reforça a importância de buscar equilíbrio emocional para promover uma melhor qualidade de vida e, potencialmente, retardar a progressão da doença.
A jornada é desafiadora, mas, com uma abordagem que une corpo e mente, é possível trilhar um caminho de maior bem-estar e serenidade.
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Referências:
Marrie RA, et al. (2010). “The incidence and prevalence of psychiatric disorders in multiple sclerosis.” Multiple Sclerosis Journal.
Marrie RA, et al. (2017). “The relationship between depression and disability in multiple sclerosis.” Journal of Neurology.
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Dr. Marcello Alencar
Fisioterapeuta - Crefito 92161-F
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